Crônica n°2: jornal O Editor - Des(conhecidos)

Crônica n°2 - jornal O Editor
Des(conhecidos)
É estranho conhecer e desconhecer as pessoas. Talvez o tempo seja o fator principal desse desconhecimento. Acredito que essa sensação aconteça com muitas cabecinhas por aí. Mas que é sinistro é.  Um dia você tem um melhor amigo, conhece Tim-Tim por Tim-Tim a vida dele, sabe dos segredos, do primeiro ‘ficante’, um posa na casa do outro, almoçam juntos, ficam bravos e no outro dia estão se amando novamente e assim por diante. O tempo começa entrar em sua devida ação temporal, as coisas começam a tomar rumos distantes e as pessoas começam a mudar através dessa passagem cronométrica. O detalhe é que quando a gente vê: nem o espelho consegue nos trazer de volta ao passado para lembrar tantas pessoas que foram embora. É tão estranho, parece que faz parte da vida perder as pessoas. Uns vão para outro plano, outros ficam no mesmo plano, porém distantes de nós mesmos. Os que permanecem aqui e que, um dia, foram a amizade mais verdadeira são hoje o nosso próprio desconhecimento. No primeiro momento o contato é mantido pelas redes sociais, mesmo sabendo que o contato mais importante não se faz presente: O toque... O olho no olho, as expressões faciais, a lágrima e o sorriso. Mas a gente tenta e os anos passam e cada um vai para um lado, as amizades mudam e as buscas pelos planos iguais se tornam diferentes. Um vai cursar Medicina e o outro Agronomia. E quando se encontram, é por acaso. É o acaso é na mesma cidade que um dia tudo começou, onde foi respondida aquela perguntinha básica de criança: “quer ser meu melhor amigo?”. É engraçado e estranho. E esse encontro nos coloca numa situação delicada. Não sabemos o que conversar, falta assunto porque já passou muito tempo. A pessoa tá diferente, mais culta, mais elegante. Fica aquele silêncio entre as duas pessoas e os pensamentos numa velocidade imensa: O que perguntar? Hummm, nossa como ele cresceu! Está com uma camiseta da Marisa Monte, mudou o estilo musical também? Fez tatuagem no pescoço, mas disse que não curtia essa tinta na pele. Daí pensamos, na bendita calma. Calma que o tempo passou e as duas crianças hoje, são duas mulheres... Não temos que nos sentir culpados por ter perdido o contato por muito tempo, não temos que carregar a culpa de que as pessoas mudam, não temos que nos culpar pelo crescimento das pessoas. Não temos que nos cobrar a falta de assunto e muito menos o silêncio de um reencontro ocasional. Temos sim é de lembrar que um dia a gente sabia tudo sobre aquela pessoa. Incriminar o próprio tempo é matar um passado tão bem vivido.

Camila.

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