Falando com as paredes
Falando
com as paredes
Quem já não se pegou despercebido falando com as próprias paredes?
Quem já não ensaiou um discurso com o espelho? Muitas vezes somos
os protagonistas das nossas histórias, somos os interpretes das
nossas próprias palavras, somos o ensaio da nossa originalidade de
apenas querer refletir, desabafar e decorar um discurso. Duvido que
não exista ninguém que já tenha xingado uma pessoa sem sua devida
presença, xingar sem machucar é fazer um desabafo de dentro pra
fora, é dizer o que pensa com todas as palavras e longe de todos, é
falar em silêncio escutando a própria voz.
Quem
já não ensaiou uma desculpa esfarrapada? Ensaiar o que se pretende
dizer nos coloca num grau de reflexão maior do que falar sem pensar.
Dialogar sozinho é aprender a nos colocar no lugar do outro, é
partilhar o próprio momento.
Quem já gravou a própria voz e depois se decepcionou com o que
escutou? É normal. Acontece com todos. As pessoas não possuem muito
o simples hábito de se ouvir. E quando isso ocorre, acabamos por
decepcionar os próprios ouvidos. Até mesmo o hábito de se ler
decepciona, porque as próprias letras descompromissadas foram sendo
computadorizadas. Escrever algo num papel e guardar numa gavetinha é
tão bom quanto abrir a mesma gaveta num certo tempo depois e passar
os olhos sobre nossas alusões, sobre nosso paradigma de querer
escrever e guardar para sermos lidos com o passar do tempo. Escrever
um poema para cada período de nossas vidas nos faz crer na evolução
dos nossos sentimentos.
Quem já usou o carro como um profissional terapêutico das nossas
idas e vindas do serviço? O carro nos escuta, o carro nos leva e
também responde. Ele responde ao nosso modo, responde aquilo que
queremos ouvir, nos responde com a nossa música favorita. Apenas
apertar play e começar a reflexão, e pronto já estamos num outro
mundo. Cantamos quando há música e resmungamos quando há o
silêncio.
Quem já criou e recriou diálogos nas ruas, avenidas, em frente ao
computador? Muitas vezes já falamos com ex-maridos e raramente
fizemos as próprias respostas do diálogo. Quantas vezes já
discordamos dos nossos chefes sem ao menos eles saberem da nossa
vontade de esmagá-los? Quantas vezes... Uma, duas, três...
Várias... Muitas... Quase sempre, sempre. Nem por isso passamos por
loucas, falando sozinha ou não. Mas falar e gesticular ao mesmo
tempo já é demais pra dois ouvidos. Há sempre um interlocutor
oculto entre as duas paredes.
Seria um psicodrama falar sozinho? Talvez fosse a palavra mais
refinada para definir nossa ansiedade, segundo o ator Caio Blat.
Falar sozinho é uma segunda chance que a vida nos oferece, vá saber
do estrago que faríamos para nossos chefes, amigos, vizinhos e
professores se o desabafo acontecesse olho no olho, cara a cara e sem
pensar...
Comentários
Amei seu blog!!!
grata pela passada em meu blog.
gostei do teu canto também.
beijos meus...