loucuras de um desabafo!
Ás vezes penso que nada passou de
um sonho demasiado, cansativo e ousado. Por outra, viajo em todos os momentos
em que quis apenas ter. Por instantes, milésimos, mas eu tive. Ainda posso ter
caso eu queira, sim eu. Um ato convencido dessas minhas loucuras me fazem ver
de longe que as pessoas possam se apaixonar.
Os passos lentos, descalços, mas
eles acabam por se entregar numa caminhada mais segura. Certamente porque eu me
posiciono sem nenhuma regra, sem quebrantes para aproveitar um gota a gota de
uma loucura. Loucura? Será loucura viver o que pensamos? Será louco um amor de
entrega? Aquele escondido e bem quietinho?
Loucura é viver na sanidade de um
mundo convencional. Loucura é moldar nosso modo de vida e nos castigar naquilo
que deixamos de fazer. Queria uma análise bem absurda e irrestrita de todos os
nossos momentos. Um estudo científico hemorrágico das gotas de sangue que nos
ferveram quando fomos duas, dois, um, uma...
Ás vezes creio no silencio como
sendo não um tempo, mas aquela pausa gostosa para anotarmos mais um verso da
música. De uma música escrita com letra de forma, dedicada aos dramáticos do
amor. Mas fomos a loucura reinventada ou uma forma de a gente ser
temporariamente diferente e feliz? Houve porque existiu, sentimos porque fomos.
Ás vezes, de vez nenhuma, das
vezes todas eu já nem sabia mais como fazer o meu olho brilhar. O brilho era o
sonho, o encanto sendo uma esperança instantânea realizada, um brilho ambicioso
de que poderíamos ser qualquer coisa, um bicho, uma planta e sair voando por aí
fazendo uma profunda fotossíntese... Viajar nos querendo, nos envenenando e
matando a curiosidade alheia. Desculpas, o brilho não surgiu. Não porque havia
morrido, mas foi um imposto pago pelos meus olhos, eles doeram quando te
enxergaram sem luz, sem brilhar, sem altezas, sem um altar... Doeram ainda mais
quando eles dormiram e logo ao amanhecer foram abertos sem terem sonhado mais
nada... Sem lembrar a última coisa que pensaram antes de fechar as janelas!
Então, que loucura? Sonhar e nada
mais? Um dia, tudo. À noite, vaga. Amanheceu e resolvi voltar para casa. Sabe por
quê? Porque eu também queria ter a minha, porque eu também sei que depois do
sonho vem a realidade, depois da loucura vem a sanidade, depois de um domingo
vem a segunda, uma terceira e quem sabe uma quarta. Mas vem, um dia vem, e no
outro voltamos a ser de quem, na verdade, sempre fomos.
Depois de um livro, vem outro. Mas
depois da dor, vem a ferida? Ou a ferida e depois a dor? Não sei, creio que
deve doer bastante a dor e a ferida. Depois da enchente conseguimos enxergar o
que estava abaixo da água, abaixo do rio... Sabe aquela casquinha de uma ferida
que arrancamos com a ponta da unha? E depois sai um caldinho ardido? Que sensação
boa arrancar a própria ferida? Mas depois dela, a casquinha volta e tudo volta
a cicatrizar novamente. Sabe explicar? Porque é o ciclo normal das mitoses de
nossas células...
Não quero amar sem poder amar. Não
quero beber água e não saciar a sede. Não quero me apaixonar sem poder viver a
paixão. Não quero me casar sem poder casar. Não quero amar porque nossas outras
metades já nos amavam. Não quero brilhar o olho sem poder te ver com eles
abertos. Não quero pulsar sem poder sentir. Não quero me permitir porque já
somos prometidos. Fomos jurados enquanto éramos apenas dois. Mas eu amei quando
pude amar, assim como me apaixonei quando havia de ser paixão. Mas eu me saciei
quando houve os dois encontros. Eu pulsei quando o coração clamava mais
batidas, quando ele havia de bater, latejar, batucar... Mas ele também doeu
ficando mais claro de quem era eu! Do que doeu. E tudo doeu. Dizer o sim e inclusive
um não.
Eu não pude gostar porque de tudo
que eu experimentei sabia que depois de um beijo, poderíamos seguir num amasso,
depois um aperto, um afago e um fogo exotérmico de uma tremenda paixão. Depois dela,
seguiríamos no amor... E depois dele? Nossa decisão que já havia sido decidida
e nossas escolhas que já haviam sido escolhidas. Ficamos no amor porque não
poderíamos ir além. Porque depois dele ninguém iria nos perturbar.
Mas havíamos
de ser apenas um par. A flor e o espinho. O cravo e a rosa. Romeu e Julieta...
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