Sono provisório
Madrugada, agora, quatro e cinco da manhã. Perdi-te no sono.
Uma boa troca de estarmos juntos na mesma noite desta insônia. Cadê minhas
perguntas que não chegaram até você? Onde andas nesta madrugada? Sim, eu sei.
Estás aqui comigo, presente. Onde não andas, então? Não deves estar dormindo
comigo. A musicalidade da sincronia do relógio me fez lembrar aquele poema: …
café com pão, café com pão… “ Pois esse tic-tac, tica-tac repetitivo me mostra,
aos poucos, do quanto estou perto de ti, sentindo a tua presença nesta saudade
devastadora que nem meus olhos quis fechar para que pudesse te ver, te
enxergar.
Pena, não consigo tocar tua voz, nem sequer teus lábios sonolentos.
Mas sei que dormes longe daqui, sei também que estás tão acordado perto de mim.
Será que faltou o beijo de boa noite para que pudéssemos dormir? Ou será que
errei em não ter te acordado com beijos esta manhã? Alguma falha me faz um
questionário de inquietações. Espero que tenha havido somente uma falha de
comunicação, pois queria tanto, mas tanto, tanto mesmo ter ouvido tuas palavras
e teu riso de coisa boa que acabei por esquecer que não temos nenhum
compromisso.
O erro foi eu ter me ocupado muito com tua lembrança. Acertei
quando resolvi de escrever pra abafar essa agonia e desabafar tudo que ainda,
um dia, irá me ler. Talvez durma de cansaço dos próprios dedos das mãos, pois
quero escrever até cansar, até esgotar não o vocabulário, mas sim a minha
paciência. Calma aí, vou acender um cigarro. Pronto. Voltei. Onde estávamos
mesmo? Ah, sim. Lembrei. Estou em você e lembrei tua falta. às vezes pareço uma
hipérbole gigante de tão exagerada que me sinto, mas na realidade sinto um
vácuo e um vazio que ecoa em sentir que tudo aquilo que me preenchia era a tua
existência. Não que tenhas deixado de existir, mas creio que o complexo fato de
estar se distanciando me faz se aproximar ainda mais da simplicidade óbvia de
que não deveria nem ter te beijado. Sim, fui eu que te beijei aquela primeira
vez e a segunda também. Mas a nossa
última fomos nós. Digo a última pra te deixar culpado porque sempre clamou um
beijo de despedida. Quero terminar contigo tudo que vivemos, quero terminar
esta noite para que eu possa começar quem sabe meu sono, e assim nem sonhar
contigo.
Quero te rasgar dos meus poemas e te fazer só em versos para que um
dia eu te leia e caia na realidade que tudo que eu escrevia era tão somente
desespero. Quero que vá embora como uma chuva que molha a terra e deixa seu
cheiro. Quero sentir um perfume e tocar teu aroma, assim como queria tanto tomar
banho de chuva contigo e poder te secar naturalmente, enxugando-te com o calor
de um lindo sol que a natureza nos oportunizou. Quero que assim seja tudo que
digo porque daqui a pouco será outro dia e eu lembrarei dessa minha insônia
melosa. Ah, agradeço a inspiração que tens me ofertado, pois meu poema não me
alimenta assim como tua saudade já me condena em viver dessa pobreza. Quero não
te querer mais perdido nessa ilusão de que um dia podemos nos desencontrar,
pois encontrados já fomos. Daqui a pouco eu caio na cama e digo que mais uma
vez irei te chamar mesmo sem sono, irei te buscar mesmo sem rumo, irei fazer
alguma coisa para escutar teu nome irei aonde estiveres só para me queixar
dessa noite que tu me roubou alguma coisa, que roubou meu alento em silêncio.
Câmbio, desligo, pois te chamo e nem uma força oculta me expressa a resposta de
estar perdida. Perdi-me de você. Perdi-me aonde deveria nem ter te achado.
Bendito dia em que nos encontramos. Fim!
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