Um amor perturbado

  

 O que ninguém quer é perder, mas ganhar todos querem. Querem amor, querem sexo. Querem e querem cada vez mais. O esquecer de doar é o pranto de quem nunca doou, cedeu. Prometer o eterno é um escrúpulo da dignidade humana. O eterno se vai, esvai-se em não terminar, o eterno é um eco compacto de duas pessoas, sólido de um mesmo sentimento. 
  Jurar eternidade é congelar o próprio sangue para coagular por toda a vida. Injuria de quem jura assim. Jurar o eterno é desonesto quando não se tem a gratidão e a gentileza de pensar em uma vida longa para si mesmo. Jurar o eterno é reconhecer a mesma pessoa, cada vez mais complicada, na imortalidade do ter. Jurar não é uma digna fidelidade, o eterno é seguir juntos até a primeira morte. Até um além consagrado contínuo. Jurar o eterno é não morrer com o próprio egoísmo. O eterno não é pra sempre, o que não termina é a eternidade. 
  E quem jura, jura. Quem lê, lê. Quem morre, morre. Quem ama, não jura. Quem ama contenta-se em ser eterno no presente. Quem ama apaga tudo e pinta tudo de tinta. Jurar o eterno e fugir da eternidade é acabar com a própria dignidade. 
  E eu que acreditei e não morri. Confuso, não? Não. É muito simples, a gente não morre na primeira vida, o baile segue até o final. Isso sim é uma eternidade, ir até o fim amando a si mesmo. Chegar aonde todos chegaram com a maturidade suficiente para não se jurar nada mais depois.
  A eternidade se conjuga e o amor está além de qualquer mais ou menos, meio morno ou tanto faz. O amor exige uma perturbação. Perturbação de um amor distante, interesses diferentes com pessoas iguais. Não é fácil manusear a saudade, mas é muito simples não amar quem está tão perto, próximo, do lado, grudado. 
  Amar é acompanhar o processo de beleza quando rosa cênica até o murchamento de cada pétala e sua caída final. 

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